A RENDIÇÃO DE BREDA TEMÁTICA Este quadro foi realizado em 1634 por motivo da decoração do Salão de Reinos do Bom Retiro. Filipe IV desejava colocar nas suas paredes telas alusivas aos triunfos militares da Coroa. Vários artistas se encarregaram de levar a cabo esta tarefa. Encomendaram a Velásquez a rendição de Breda ante Ambrosio de Spinola. Sem dúvida alguma, o resultado de seu trabalho sobressai extraordinariamente em relação ao resto do conjunto. A iconografia escolhida pelo sevilhano se afasta novamente das representações tradicionais. O general vencido, Justino de Nassau, não aparece de joelhos ante o caudilho genovês. Ambos ocupam o espaço central do quadro, no momento em que se faz a entrega das chaves da cidade. Os dois personagens estão rodeados por uma galeria de retratos, representados no rosto dos soldados. O cenário está constituído por uma paisagem de fundo um pouco brumoso. O pintor não havia estado em Flandes. Provavelmente terá se inspirado em alguma gravura ou em outra tela do mesmo tema realizada por um pintor flamenco. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA Este monumental quadro é fruto de uma composição extraordinariamente cuidada e meditada. A estrutura do quadro é bastante harmoniosa e equilibrada. As figuras se dispõem a modo de um friso dividido claramente em dois blocos que estão à volta do grupo nuclear da tela. Este está constituído por Justino de Nassau e Spinola. As duas massas de soldados se opõem significativamente. Os vencidos aparecem de costas. Os vencedores, de frente. A verticalidade das lanças da Coroa e o aspecto compacto do seu regimento contrastam notavelmente com a atitude e a desordem do exército perdedor. Velásquez lança mão de outros recursos técnicos que acentuam as diferenças entre os combatentes. Esse é o caso da iluminação. Os vencedores recebem uma luz que ilumina simbolicamente seus rostos. Os vencidos estão em penumbra. Sugere-se profundidade mediante a justaposição das figuras em diferentes planos. Seu modelado se faz menos preciso a medida que eles se afastam do espectador. Chama a atenção o contraste cromático que se oferece com um fundo brumoso. Uma paisagem de formas difusas recebe um colorido frio e claro, frente aos ocres que dominam no primeiro plano. INTERPRETAÇÃO Com esta tela, Velásquez torna a destacar-se por sua extraordinária versatilidade. É capaz de tratar com mestria qualquer tipo de gênero pictórico. Neste caso, ele consegue imprimir à pintura histórica um ar inovador. As telas dedicadas aos triunfos militares costumavam exaltar a submissão e a derrota do vencido, que se representava de joelhos. Velásquez se afasta dessa tradição. Não insiste na derrota, mas sim na magnanimidade do que vence. A iluminação e a disposição dos personagens obedecem a uma planificação muito cuidadosa, adquirindo conotações simbólicas. Unidade e desordem, luz e penumbra... todas estas características pictóricas adquirem nesta obra um sentido moral e político. A pincelada possui diferentes qualidades, em função dos objetos representados. O traço é suave e leve, no fundo, tornando-se empastado sobre as telas. Brocados e plumas são tratados mediante toques leves de cor. Falou-se muito de realismo fotográfico que caracterizaria a obra velasquenha. Se se observa com detalhe esta composição pode se chegar à conclusão de que nela nada está colocado espontaneamente. Essa espontaneidade é só aparente.